7 Cigarros

   Acordo, não ouvi o maldito despertador novamente. A noite mal dormida, como a muito tempo não acontecia,  maldito despertador, estou em cima da hora tenho de correr. Já no meio da rua não sei ao certo como, devo estar bêbado de sono. Tenho que me acalmar e procurar sentido nas coisas.
Maldita memória, maldito subconsciente. Os sonhos com ela ainda são constantes. Estou com um cigarro na boca, o maldito maço deve estar acabando. Confiro, me sobram 6.
Vou ter que passar o dia com 7 cigarros, o que já consumo em situações normais, com a ajuda da maldita lembrança consumo muito mais. O pior é a sensação de que vou encontra-la na próxima esquina, no próximo passo, na próxima vez que abrir e fechar os olhos. O pior, é a vontade de vê-la, o desgosto de vê-la, a dor de vê-la, a forma que ela reflete meu vazio, a vontade de que aconteça algo mágico que faça ela voltar aos meus braços como em uma cena de novela com um beijo no meio da rua.

   - SEU MERDA. - É o que meu ego repete. Aos berros, mas minha obsessão parece tampar os ouvidos do meu bom senso.

   Porra, não é nem meio dia, me sobram apenas 4 cigarros.
   Meu trabalho é executado da forma mais automática que meu subconsciente consegue guiar. Começo a duvidar da minha sanidade, novamente. Antes dela eu tinha quase certeza da minha completa falta de discernimento, ela me botou nos trilhos. A Desgraçada me deu felicidade, e depois tomou de volta. Maldita.
   A vida era muito melhor.
   Quando era pior.
   A música, quando eu não conhecia a maldita esperança, a música me entorpecia. Agora é mais distante que música ambiente dessas lojas de roupa. Ainda não é meio dia. O maldito tempo, desacelerou, ela também levou minha habilidade de ignorar o tempo. Devia haver um tipo de acordo pré-nupcial para bens morais.
   Já são só 2 cigarros, espero que eles me devolvam minha desilusão com o futuro.
   Era tão bom quando não esperava nada da merda da vida. Nunca esperei muito do futuro, sempre esperei tomar porres homéricos, entrar no mundo corporativo e foder com a vida de engravatados, com minha "inteligência superior" ter muita história pra contar, morar sozinho, havia aceitado passar a vida sem nenhum relacionamento sério, logo depois eu morreria, cedo, antes dos 40, com meu nome ecoando pelas eras: "o jovem que fodeu o sistema e viveu cada segundo da sua vida".
   Era um bom plano. Você me virou do avesso, de alguma forma, eu passei a querer 3 filhos, uma casa perto do centro da cidade com um banco de madeira, onde falaríamos as mesmas besteiras que nos faziam rir com 20 anos, mas com 60 cada um.
   Me odeio a cada dia que passa. Primeiro pela burrice de te procurar, que é como insistir em atravessar um arbusto cheio de espinhos, segundo porque sempre tive controle da maioria das coisas na vida, agora, não sei mais que rumo seguir, nem sei quem eu sou, que merda de manipulador eu sou agora?
  Não tenho nem controle sobre mim. Não faço ideia do que você está fazendo agora, eu costumava ler seus pensamentos, só analisando as situações. Como pode? alguém preencher o que eu nem sabia que estava vazio, de tal forma? Como pode, depois de tanto tempo, que eu me sabotei, ainda sentir o cheiro do teu creme de pele, ou do teu perfume favorito.
   Queria muito saber como te vejo em todo lugar, quando você não está em lugar algum... Espero que esse ultimo cigarro, bote minha cabeça no lugar. Ou pelo menos tenha a decência de me proporcionar um ataque cardíaco, ou algo parecido.
  
   Mas não antes do ultimo trago.
  

Se Eles São Bonitos, Sou Alain Delon.

   Por vezes durante a adolescência me incomodei com ser mais sociavel, ou mais "legal".
Na verdade, 99% dos adolescentes querem ser "legais", mas tudo seria uma maravilha, se não fossem os outros.
   Sempre os outros, os que tomam a frente, ou os que são sádicos, que gostam de se auto afirmar diminuindo os demais. Sem essa polêmica toda de "Bullying" que explode na mídia hoje em dia... Por que as crianças de hoje foram... amolecendo. Sempre houveram pessoas maldosas, e isso não acaba no colégio. Já ouvi em um filme bobo hollywoodiano, "a vida é um colegial gigante, mas com bebida e cinzeiros".
 As concequências da vida adulta são mais pesadas, e toda essa campanha exaustiva Anti-Bullying de certa forma, tira o "treinamento" das pessoas para a vida.

   No meu caso por exemplo, nunca fui o "Intimidador", nem o "Garanhão", muito menos o "Atleta", nenhum estereótipo me ajudou durante a adolescência, sempre fui visto como "O Bobo". Depois de um certo tempo, aprendi a lidar com a chacota dos adolescentes, e desenvolvi um senso de justiça quase heróico, parte incentivado pelos quadrinhos, parte pela escola, a questão é que quase sempre defendi quem não sabia se defender (Quase nunca consegui, mas sempre tentei). Aprendi que não tem a menor graça ver alguém caindo, e desenvolvi a habilidade de parecer inofensivo, e tomei MUITO proveito disso.
   Tudo isso, sem campanha "Anti-Bullying", sem bater em ninguém (Minha estatura ainda é baixa.), aprendi usar minhas debilidades e habilidades ao meu favor. E tenho certeza que se nascesse 10 anos depois, seria só um bundão conformado, um adulto que não cresceu, que acha que qualquer bonitão, fortão, ou playboy é melhor do que eu.
   NÃO. Nas porcarias dos seriados/filmes adolescentes americanos de hoje, mostram a ascensão de um fracassado ao cargo de mais popular da escola (Normalmente um galã, Ou exímio cantor) e esse não é o caminho. A grande revolução, tem de ser interna. Enquanto você aceita que é um fracassado por que outros te chamam disso, você ainda será. E o caminho, não é se tornar um babaca como a mídia ensina. É montar o seu jeito de viver, e ignorar todos que querem impor quem você deve ser.
 

   O caminho é descobrir que você não é especial, é só a mesma matéria organica em decomposição como todos os outros.

C'mon, remember who you are.

Esperei crescer e ser um Beatle.
Não ser grisalho antes de bem sucedido,
Acontece que muito aconteceu.
Muito prometi e eu não cheguei a ser meu.

Ousei, errei, Fracassei e  não acertei.
Fui maldito, Fui um mito, Fui errado e esquisito.
Decidi amar, cuidar, suspirar e me entregar.
E enfim quando perdi, resolvi me resumir.

Procuro em fotos onde está,
aquele meu futuro de rockstar...
Não lembro mais da minha essência,
Meu cotidiano é me adaptar.

Não quero mais sobreviver, sobre o viver. E sobre viver eu nada sei.
Mesmo preso nesse cidadão de bem, ainda sou o mesmo encardido,
Rasgado, desajeitado, inconsequente e perdido,
Eu não vou parar de crescer, agora que comecei.
Só dá pra seguir em frente, olhando o caminho que já andei.

Os Textos são mudos.

Quando escrevo, sempre me preocupo com as possibilidades.
Porque os textos são mudos.
Não tem melodia ou ritmo próprio.
Cada leitor lê em seu próprio tom, e com a percussão que lhe convir.
Textos, quando não escritos de má fé, dão a liberdade a todo aquele que o aprecia, de desenvolver suas convicções e aprimorarem sua visão de mundo, até mesmo (muitas vezes) para seu autor.

Outra coisa que eu sempre tomo cuidado é com a pretensão, tenho por natureza o ego inflado. E o ego muitas vezes faz as pessoas cometerem erros.
Mas infelizmente o ego é necessário, caso contrário nossos dias viram uma chuva de pieguice e choradeira.
Mas como tudo na vida, é preciso haver um meio termo.
Eu só acredito em duas verdades absolutas:
 Tudo tem sua dosagem na vida Como os medicamentos, tudo na vida tem sua dose saudável, até mesmo a felicidade ou os prazeres.
Muito é Ruim.
Pouco também.


  Não há verdade absoluta - Não dá pra ter certeza de nada.
 Nada mesmo, pense bem.
Por mais que eu acredite no equilíbrio, não dá pra ter certeza.
E essa é a única certeza que tenho.

  Por isso escrevo, sempre que amplio minha visão, me sinto mais perto do que deve ser,
Ter certeza.

 Certamente quando eu acertar mais, quem sabe meus textos começam a ter voz...


Objetivos.


  Sempre vistos como as grandes medalhas da humanidade.
Ou melhor, como o relatório que o mundo - o chefe mais chato de todos -  sempre cobra. A gente cresce escutando que um homem sem objetivos não tem honra, ou não é nada.
  A questão real (pelo menos no meu caso) é quais são esses objetivos, e qual preço devemos pagar por eles... muitas vezes eles te custam toda sua energia, tempo ou auto estima.
  Mas será que eles realmente valem tudo isso?
Isso é o que me pergunto à cada vez que acordo as 5:00 am.
O que eu quero realmente?
Um carro ou conforto? Status ou carinho? Mulheres ou prazer?
 Não. Liberdade. É meu objetivo maior.
  Porém nos tempos de hoje, não posso simplesmente fugir e plantar pra comer, dormir no mato e contemplar as estrelas. Tenho que acordar as 5:00 am, encarar uma pilha de documentos e enfrentar 9 horas diárias de raios catódicos e sorrisos falsos.
  Certeza? Não tenho nenhuma. Infelizmente eu não sou um mártir, ou um revolucionário, não consigo nadar contra a maré, essa não é uma história bonita e inspiradora. Espero ao menos não ser moldado, acomodado e passar a vida na inércia do que um dia foi um impulso.

Parece clichê (E na verdade é). Nem todo conceito deve ser necessariamente original pra ser valido, mas essa é outra história, pra outro texto.
Voltando ao assunto é esse conceito que tomo como verdade.
 Devia me privar muito mais do que quero, pra conseguir o que preciso.
Creio que seja esse o segredo. Me livrar das frivolidades, em prol da sonhada liberdade, por que só quando eu chegar lá, que vou poder definir meu destino.
  Pensando bem, creio que meu objetivo afinal... seja ter um Objetivo.
Trágico, mas o jogo está aí pra ser jogado... e ninguém disse que seria fácil.

Sereno.

Quieto, como o sereno.
Frio? nem tanto.
Na verdade,
Muito menos do que gostaria.

Acredito que toda pessoa fria e serena,
É como a madrugada.
Quieta e agradável,
Quando há uma fogueira ou qualquer coisa de lã.

Estou com a alma quieta e apagada.
Talvez por isso,
a temperatura esteja baixa.

Espero que o sereno não me faça mal,
Como as mães sempre advertem
Infelizmente nós crianças,
Pensamos que pais não se divertem.


Eu construí minha paz,
Quando acostumei com o barulho.
Agora o silêncio não quer me deixar dormir.
Gritando pra minha alma, pra sumir logo daqui.


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